010 Empresas integram elos da cadeia de produção de biodiesel e saem lucrando com isso.

Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

Veja os resultados dos últimos leilões de biodiesel no Brasil e tente adivinhar o que as empresas que aparecem como maiores vendedoras do combustível no Brasil têm em comum. Se você marcou um “x” em verticalização, acertou em cheio. Apostar no acúmulo de tarefas é uma tendência cada vez mais forte no mercado brasileiro – e, segundo especialistas, pode ser mesmo o único caminho para quem quiser crescer e se manter forte nos próximos anos.

Mas o que é verticalizar? E por que o sucesso na produção de biodiesel pode depender disso? A verticalização é o processo industrial em que uma empresa tenta chegar cada vez mais perto da auto-suficiência. É o caso, por exemplo, de uma empresa que decide ser a sua própria fornecedora: é ela quem tem a matéria- prima e é ela própria quem faz a transformação até o estágio final, entregando o produto pronto para venda.

No caso do biodiesel, a verticalização inclui a concentração das tarefas-chave para a fabricação de combustível. Exemplos: uma grande produtora agrícola que decide implantar uma usina está adotando a verticalização. O mesmo vale para um frigorífico que decide, ao invés de vender sebo no mercado, usar seu material para processar o próprio biodiesel.

Esses são alguns exemplos. Mas as possibilidades estão longe de parar por aí. “A verticalização em geral pode ir desde a produção agrícola, passando pelo esmagamento do grão até a produção do biodiesel”, ensina o consultor Marcos Benzecry, do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).

Benzecry é um dos autores de um estudo sobre a verticalização no mundo do biodiesel. Encomendado pelo Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustível (IBP), o documento lista inúmeras vantagens da produção verticalizada. A começar pelo menor custo de transporte. Por exemplo, no caso de uma indústria esmagadora de grãos que tenha também a usina. Em geral as duas unidades ficam no mesmo local. Depois, há o menor custo da matéria-prima. Ao invés de comprá-la a preço de mercado, produz-se a custo de produção. Nesse caso, analisa-se o que é mais vantajoso: comprar óleo vegetal no mercado ou comprar o grão e esmagar para produzir o próprio óleo. Lembre que com o esmagamento do grão também se gera receita com a venda do farelo. E há ainda o menor impacto tributário. No caso mencionado acima, paga-se tributo sobre o grão comprado (de menor valor agregado) ao invés de se pagar sobre o óleo comprado no mercado. Existe, aqui, uma ressalva: esse benefício depende de outros fatores que podem influenciar o saldo tributário da empresa.

A lista segue adiante. Na verdade, depois de ver os dados reunidos por Benzecry, é difícil não sair convencido de que a verticalização é o único caminho possível – ou, pelo menos, o melhor caminho existente no momento. Segundo ele, quem tem duas etapas na mão – esmagamento de grãos e usina – consegue ganhos de 15%. Quem tem três etapas da produção nas mãos – plantio, esmagamento de soja e usina – pode ter ganhos de até 25% sobre os competidores “horizontais”. “A verticalização é quase uma necessidade para os produtores de biodiesel. Com menor custo de produção, os produtores verticalizados são mais competitivos”, afirma. Benzecry não está sozinho. Wanderley Feliciano, pesquisador da área e diretorpresidente da WVA Assessoria e Consultoria, é outro entusiasta do modelo. E é tão incisivo quanto o colega. “Quem vai sobreviver no biodiesel é o verticalizado”, diz.

Porém, os dois discordam em um ponto fundamental. Para Benzecry, o modelo verticalizado só é viável nos casos de grande produção. Sendo mais preciso: vale a pena para quem produz mais de 50 milhões de litros por ano. Feliciano acha que o grande produtor obviamente ganha mais. No entanto, ele acredita que é hora também de os pequenos tentarem soluções verticalizadas.

Uma proposta viável para um produtor agrícola de menor capacidade, por exemplo, seria montar uma usina de 10 mil litros/dia e comprar esmagadoras de grãos. O investimento fica na casa dos R$ 500 mil e coloca mais um produtor com preço competitivo no mercado de biodiesel nacional. Os lucros virão, segundo Feliciano. “Quanto mais você está inserido no processo, mais flexibilidade você tem”, diz.

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